Ashaninkas querem ser ouvidos no encontro de combate ao narcotráfico
No início do ano 2000, um grupo de narcotraficantes foi até a aldeia Apiwtxa, terra dos índios Ashaninka, em Marechal Thaumaturgo, tentar subornar as lideranças indígenas. Eles queriam a permissão para construir uma pista de pouso no território brasileiro, em troca pagariam em dólares pela cessão do uso da área.

Quem recebeu os narcotraficantes na aldeia foi o líder indígena Francisco Pianko, ex-secretário dos Povos Indígenas. Pianko disse que na época os traficantes fizeram uma proposta que pouca gente recusaria. Os criminosos queriam construir um pista para os aviões que transportam a cocaína do Peru para o Brasil usassem o local como ponto de embarque da droga.
¨ Eles disseram que queriam da gente apenas a autorização para a construção da pista. Iriam abrir a floresta e implantar um campo para pousos e decolagens. Em troca pagariam cinquenta mil dólares por cada vez que o avião pousasse lá. Seriam dois vôos por semana. A gente teria somente de manter o local camuflado e longe dos olhos das autoridades brasileiras, contou Pianko.
O líder indígena disse que os caciques recusaram de imediato a oferta e ainda prometeram denunciar a ação dos narcotraficantes para as autoridades do Brasil.
Depois dessa ousada visita, conta Francisco, os narcotraficantes não mais arredaram os pés do território dos Ashaninkas. A terra possui uma área de 87 mil hectares onde vivem cerca de mil índios, que frequentemente notam a presença indesejada dos criminosos.
¨No nosso caso, a gente sempre se colocou contra a ação dos narcotraficantes. Fomos ameaçados, enfrentamos situações de extremo perigo mas nunca recuamos, nem vamos recuar. As instituições tem conhecimento da vulnerabilidade da fronteira e fica ainda mais difícil quando a comunidade não contribui¨, observa.
Como o Acre vai sediar o encontro nacional para debater a atuação das Forças de Segurança contra o narcotráfico, Pianko disse que o povo Ashaninka vai pedir espaço para reafirmar as denúncias que já fizeram.
Ele espera que a coordenação do encontro abra espaço para que as lideranças indígenas também sejam ouvidas , e relatem as ameaças e a ação dos narcotraficantes nas terras onde vivem.
¨ O espaço para falar, não de maneira isolada as questões, mas assim dizer que toda a região de fronteira é preciso ter uma presença maior do estado, um aparato maior. O estado precisa chegar porque as comunidades se sentem ameaçadas, pressionadas, desprotegidas e finda aceitando. Então acho que o estado precisa orientar a população, dizer o meio de como ajudar a combater. Eu acho que esse processo é muito importante. E esse encontro, eu acredito que não se faz a proteção de uma fronteira como essa trabalhando de forma isolada. As fronteiras precisam ser protegidas pelos dois países, porque se não eles dominam¨, observou.

Quatro índios foram mortos por narcotraficante em 2014
No ano de 2014, segundo Pianko, quatro lideranças Ashanika foram assassinadas por ordem dos narcotraficantes que atuam na fronteira do Perú com o Brasil.
Ele disse que os índios estavam marcando suas terras na região do rio Ucayale, e acabaram sendo emboscados e mortos a tiros.
No mês passado, um outro índio da etnia sofreu uma tentativa de homicídio. Pianko disse que navegava em uma canoa e quando passava na área onde existe uma estrada aberta pelos criminosos na floresta, foi atingido por um tiro.
¨ Nós fomos ao local e constatamos que ele foi emboscada na margem do rio onde existe uma estrada que os traficantes usam para transportar a cocaína. A gente deduziu que se tratava dos traficantes porque foi na mesma região onde nossos parentes foram mortos em 2014¨, disse.